Já aconteceu comigo e vira e mexe percebo que muita gente acaba caindo na armadilha do livro fácil. Ele está lá na prateleira em destaque da livraria, nas gôndolas perto do caixa de um supermercado e até mesmo nas bibliotecas. Hoje em dia está inclusive nos posts patrocinados do Instagram. Repare se já não rolou no feed um anúncio de um ebook com as frases iniciais do primeiro capítulo.
No caso das crianças, o livro fácil costuma ser aquela versão em quadrinhos com desenhos feitos pelo computador, sem cuidado estético, frases repetitivas, pouco texto e não há desafios ao pequeno leitor. Ou pior: um texto que parece um diálogo de abreviaturas. “Né?” Falta uma história, um vocabulário novo, um cenário que surpreenda, uma ilustração que possa aguçar a imaginação dos miúdos.
Ficaria deselegante aqui elencar obras e coleções que são como esse túnel em que as crianças entram e muitas vezes não enxergamos uma saída. Então, se possível, não comece a ler esse tipo de livro, ainda mais se for de alguma coleção que a todo instante surge um volume novo. O melhor é nem cair nessa furada.
Se você quer fugir disso tenha atenção para não comprar:
Livros com personagens da televisão
Quadrinhos sem cuidado estético e falas superficiais
Manual com linguagem pobre, histórias com maldades e frases extremamente coloquiais
Sugestão de leitura e experiência a ser compartilhada
Vamos então falar de quadrinhos que valem a pena? A primeira sugestão é a coleção do Asterix. O herói gaulês se envolve em muitas confusões com seu amigo Obelix e o cachorrinho Ideafix. As histórias podem parecer datadas, mas as aventuras falam de questões do dia a dia. As crianças morrem de rir e você pode pedir para que elas repitam o trecho que mais gostaram em voz alta. É um estímulo extra para que elas se desenvolvam mais e aprendem entonação, pausas e ritmo.
Outro exemplo de quadrinhos com boas histórias, enredo eletrizante, palavras novas e desafios é a coleção “As Aventuras de Tintim”. São muitos livros e a idade recomendada é a partir dos 9 anos. Verifique antes alguns volumes que só devem ser lidos depois dos 14 anos. Existem temas que não são para crianças pequenas.
3. Por fim, a versão do Monteiro Lobato em quadrinhos é boa para quem ainda não encarou o livro todo. A adaptação feita por André Simas tem boas tiradas e prende a atenção das crianças com uma trama criativa e cheia de elementos novos na história de Dom Quixote.
Um pouco mais sobre quem escreve
Para quem ainda não segue o instagram @maislivrosmenostelas aproveito para contar um pouco mais sobre a minha trajetória. Tenho 40 anos, sou jornalista e curto muito acompanhar o desenvolvimento das minhas 3 crianças: Laura, Miguel e Cecilia. Trabalhei em jornal, site, rádio e televisão. Na GloboNews, fui produtora e editora por 14 anos. A leitura para as crianças se tornou uma prioridade quando percebi que as telas poderiam atrapalhar esse processo. Por isso, comecei a pesquisar sobre esse tema. Hoje, já consigo reunir uma série de fundamentos sobre o assunto e tenho ajudado diversas crianças no desenvolvimento da leitura. O primeiro passo para quem tem uma criança em casa é lembrar da recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria. Até 24 meses (2 anos) zero telas. Ou seja, nada de celular, televisão, tablet, computador. É possível. Para isso acontecer, o adulto também deve evitar telas perto das crianças e criar o hábito de deixar o celular mais afastado. Quem tem um dispositivo por perto vai acabar consultando, afinal, hoje é muito mais fácil pesquisar no google para descobrir a capital de um país do que buscar em enciclopédias, livros, dicionários, etc.