Conversar sobre assuntos delicados e até mesmo entrar na intimidade de uma criança são desafios que muita gente tem medo de enfrentar. Não chega a ser uma vergonha, mas sempre fica aquela dúvida: será que estou passando do limite ou tirando a privacidade de uma pessoa em formação? Sem dúvida, quando um adulto checa um email ou um celular está sim entrando no espaço sagrado do outro. Porém, não tem jeito. Avise. Deixe bem claro que isso é temporário. Já que no início ainda é preciso aprender como funciona o mundo digital e, por isso, é necessário o controle ou por aplicativos ou por espelhamento de conteúdo do celular. Por fim, vale reforçar com a criança que somente os responsáveis podem fazer isso. Ninguém mais deve entrar no celular, nos aplicativos, ou se passar pela criança numa troca de mensagens, por exemplo. Nem os amigos dessa criança.
Passado o choque de ter mais uma tarefa para os responsáveis, vamos ao assunto de hoje: precisamos fazer escolhas. Uma delas é monitorar o acesso ao mundo digital neste início da viagem. Sim, uma expedição por um universo encantador e também cruel. Feita essa escolha, siga adiante. Mantenha em dia a checagem, veja os emails, pergunte como surgiu aquela troca de mensagens. Explique que apagar o que foi dito ou postado não quer dizer que as pessoas não tenham visto e aproveitado o instante para fazer um print, uma foto da tela.
Com o tempo, você vai perceber a maturidade da criança e pode avisá-la que as checagens vão diminuir porque já existem sinais concretos de que a boa convivência no digital foi adquirida. Até o momento em que não seja mais necessário fazer um controle direto. Porém, as conversas não acabam. Pergunte sempre sobre o que acontece no celular. Vale saber quais são os aplicativos mais utilizados, o tempo de uso, as pessoas que mais entraram em contato, o que houve de positivo e o que foi negativo e rever metas de utilização do dispositivo.
Vou condensar aqui as 5 dicas para monitorar a vida online das crianças (e adolescentes) apresentadas pela Caitlin Bootsma (íntegra neste link):
Utilize softwares de controle, aplicativos para espelhar e filtros para bloquear conteúdo indesejado.
Tenha as senhas e siga as redes sociais da criança. Permita apenas a interação com pessoas conhecidas da criança.
Evite compartilhar fotos e vídeos. Jamais passe adiante conteúdo que foi recebido sem a autorização de quem está na imagem.
Estabeleça que o uso do laptop vai ser na sala e o celular não deve ficar com a criança na hora de dormir. Uso dos dispositivos é para ser feito de maneira visível.
Converse sobre o que foi feito online, artigo lido, com quem a criança conversou, as novidades da internet, etc.
Aqui temos um ponto de partida para o uso das telas, mas é claro que cada família vai chegar a um modo de controlar e manter o respeito no mundo digital.
Sugestão de leitura e experiência a ser compartilhada
A alegria da menina Laura é de uma delicadeza que fica marcada na memória de quem lê essa coleção. Ao todo, são nove livros que contam o percurso feito pela família que vai em direção ao Oeste, nos Estados Unidos, no começo dos anos 1870. Eles enfrentam todos os tipos de dificuldades durante a viagem, mas a narrativa contada pela perspectiva da menina aborda principalmente questões simples do dia a dia. Situações em que a filha discorda da mãe, mas obedece, a irmã que tem os cabelos mais bonitos, e ela sabe admirar. Tudo faz parte do amadurecimento da menina que tem uma maneira de se indignar ou se exaltar com algum problema, mas sabe ser gentil, doce e jamais desiste diante de uma situação adversa. Li a coleção toda da editora Record, mas está esgotada. A nova edição saiu pela editora Principis.
Um pouco mais sobre quem escreve
Para quem ainda não segue o instagram @maislivrosmenostelas aproveito para contar um pouco mais sobre a minha trajetória. Tenho 40 anos, sou jornalista e curto muito acompanhar o desenvolvimento das minhas 3 crianças: Laura, Miguel e Cecilia. Trabalhei em jornal, site, rádio e televisão. Na GloboNews, fui produtora e editora por 14 anos. A leitura para as crianças se tornou uma prioridade quando percebi que as telas poderiam atrapalhar esse processo. Por isso, comecei a pesquisar sobre esse tema. Hoje, já consigo reunir uma série de fundamentos sobre o assunto e tenho ajudado diversas crianças no desenvolvimento da leitura. O primeiro passo para quem tem uma criança em casa é lembrar da recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria. Até 24 meses (2 anos) zero telas. Ou seja, nada de celular, televisão, tablet, computador. É possível. Para isso acontecer, o adulto também deve evitar telas perto das crianças e criar o hábito de deixar o celular mais afastado. Quem tem um dispositivo por perto vai acabar consultando, afinal, hoje é muito mais fácil pesquisar no google para descobrir a capital de um país do que buscar em enciclopédias, livros, dicionários, etc.