Muita gente ainda encrenca com poemas
É verdade, infelizmente. Eles parecem pomposos, difíceis, somente para quem estudou muito ou sabe declamar. Esqueçam todas essas falsas ideias. Vamos ao que interessa: existem leituras indispensáveis para crianças. Rimas, ritmos e poesia. Então, vamos deixar a preguiça de lado para ler Vinicius de Moraes para as crianças. Se ainda assim você não tem coragem de se aventurar nas poesias, coloque as músicas que foram feitas a partir do texto do grande poetinha. Procure os áudios na Internet, faça uma lista somente com essas canções do livro “A Arca de Noé” e aproveite várias vezes durante o dia.
Depois de uma semana ouvindo A Foca, O Pinguim (onde vai assim, desculpe, mas não posso perder essas rima), A Pulga e tantas outras músicas, aí sim, introduza o livro, leia depois que o gosto foi despertado pela música. Digo isso porque um livro desses é uma preciosidade da nossa língua e toda vez que me perguntam um texto original em português lembro da genialidade de Vinicius e de Cecilia Meireles (que já falei aqui na primeira newsletter) e fico triste porque muitas crianças estão crescendo sem a poesia. Entendo, por isso faço essa sugestão de começar ouvindo e cantando. Depois, me contem como foi o processo.
Se ficar mais fácil, escolham apenas dois ou três poemas. Aqueles que as músicas foram mais bem recebidas pelas crianças. Fiquem somente nesses. Não ampliem o repertório até que a criança já tenha na ponta da língua alguns versos.
Vamos tentar com esses três poemas?
O relógio
Passa, tempo, tic-tac
Tic-tac, passa, hora
Chega logo, tic-tac
Tic-tac, e vai-te embora
Passa, tempo
Bem depressa
Não atrasa
Não demora
Que já estou
Muito cansado
Já perdi
Toda a alegria
De fazer
Meu tic-tac
Dia e noite
Noite e dia
Tic-tac
Tic-tac
Tic-tac…
A pulga
Um, dois, três
Quatro, cinco, seis
Com mais um pulinho
Estou na perna do freguês.
Um, dois, três
Quatro, cinco, seis
Com mais uma mordidinha
Coitadinho do freguês
Um, dois três
Quatro, cinco, seis
Tô de barriguinha cheia
Tchau
Good bye
Auf Wiedersehen.
O ar (o vento)
Estou vivo mas não tenho corpo
Por isso é que eu não tenho forma
Peso eu também não tenho
Não tenho cor
Quando sou fraco
Me chamo brisa
E se assobio
Isso é comum
Quando sou forte
Me chamo vento
Quando sou cheiro
Me chamo pum!
As três poesias foram retiradas (inclusive a diagramação) do livro citado acima.
Números até agora
Isso não é uma cobrança, ainda mais agora no fim do ano com a agenda lotada de compromissos. Queria apenas compartilhar com você alguns números e observações sobre essa newsletter que em geral é distribuída na sexta-feira, mas não saiu na semana passada porque meu computador parou de funcionar nos últimos sete dias. Deve ter sido uma rebelião, porque eu colocava a senha para entrar e ainda assim ele não fez menção alguma de que iria trabalhar. Bom, agora com um pouco mais de bom humor o computador que é mais velho do que minha filha mais velha resolveu ligar e deixar que as funções básicas voltassem a funcionar.
Voltemos aos dados: open rate aqui é de 53.74%. Ou seja, essa é uma medida de quantos assinantes abriram a newsletter. Vejam bem, não necessariamente é a leitura em si. Até porque o tempo de leitura é diferente para cada pessoa. Com essa que você está lendo já foram feitas 14 newsletters. Ao todo, temos 62 pessoas inscritas para receber a newsletter. Fico muito feliz com cada um de vocês e escrevo com muito carinho, pensando em quem vai receber, se tem filhos pequenos, adolescentes, adultos ou se são professores. Eu agradeço muito a companhia de vocês e todas as mensagens que já recebi sobre leitura, depoimentos e pedidos de ajuda. Recomendem a newsletter sempre que possível para que outras pessoas possam conhecer esse trabalho de formiguinha, mas que é feito com muito amor, sem julgamento, apenas para ajudar a termos uma infância com #maislivrosmenostelas
Por fim, queria fazer um agradecimento especial a quem fez a inscrição paga e está disposto a manter uma contribuição financeira a esse projeto, que sempre pode crescer. Espero fazer newsletters especiais para esses assinantes sempre que possível.
Um pouco mais sobre quem escreve
Para quem ainda não segue o instagram @maislivrosmenostelas aproveito para contar um pouco mais sobre a minha trajetória. Tenho 40 anos, sou jornalista e curto muito acompanhar o desenvolvimento das minhas 3 crianças: Laura, Miguel e Cecilia. Trabalhei em jornal, site, rádio e televisão. Na GloboNews, fui produtora e editora por 14 anos. A leitura para as crianças se tornou uma prioridade quando percebi que as telas poderiam atrapalhar esse processo. Por isso, comecei a pesquisar sobre esse tema. Hoje, já consigo reunir uma série de fundamentos sobre o assunto e tenho ajudado diversas crianças no desenvolvimento da leitura. O primeiro passo para quem tem uma criança em casa é lembrar da recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria. Até 24 meses (2 anos) zero telas. Ou seja, nada de celular, televisão, tablet, computador. É possível. Para isso acontecer, o adulto também deve evitar telas perto das crianças e criar o hábito de deixar o celular mais afastado. Quem tem um dispositivo por perto vai acabar consultando, afinal, hoje é muito mais fácil pesquisar no google para descobrir a capital de um país do que buscar em enciclopédias, livros, dicionários, etc.
Obrigada pelo seu depoimento. Realmente, precisamos desenvolver o hábito de ler poemas!
Eu nunca tive o hábito de ler poemas. Apesar de ter estudado em escolas particulares, esse gênero literário foi pouquíssimo explorado no ambiente escolar. Tristemente, essa realidade perdura. Basta dá uma conferida rápida nos materiais didáticos de língua portuguesa, que dificilmente encontraremos neles boas poesias.
Bom, mas o fato é que com a chegada dos meus filhos, aprendi a importância da poesia na formação linguística, e desde bebês leio poemas para eles. Assim, também me tornei uma apreciadora dos textos poéticos. Poesia é treino, tato. Aos poucos ela vai ganhando mais sentido e nos torna mais perspicaz com suas diversas figuras de linguagem. Poesia refina não só a nossa escrita, mas, também, a nossa sensibilidade. Hoje sou total #teampoesia.