Existe uma tendência cada vez maior das famílias procurarem escolas que oferecem um ensino bilíngue, claro que as mensalidades nessas instituições são mais caras. O fato é que a urgência por aprender uma segunda língua, principalmente o inglês, se tornou um critério de escolha na educação desde a primeira infância. Fico preocupada quando esse passa a ser o primeiro fator na hora de selecionar o lugar para onde vamos mandar nossas crianças, mas realmente entendo que existe uma necessidade de imersão na segunda língua.
Percebo que quanto mais cedo existe o contato com uma segunda língua a aprendizagem se torna mais fácil, rápida e completa. É o caso também dos instrumentos como o piano e o violino, por exemplo. A criança com 4, 5 anos consegue imitar perfeitamente os sons, as vogais, reproduzir frase inteiras no contexto correto. Aprende por memorização e repetição. Não necessariamente está entendendo o que diz, mas aplica corretamente tudo o que ouve.
Diante de tantos benefícios, por que então adiar o ensino de uma segunda língua? O perigo está em deixar que a criança comece a abrir mão da língua materna, por exemplo. Vejo com frequência pessoas que vieram para os Estados Unidos e relatam que os filhos deixam de falar a língua do país de origem. Conheci famílias da Itália, Venezuela e do México que desistiram de fazer com que seus filhos continuassem a exercitar a língua que era falada quando ainda eram bebês.
Com esse desafio a mais acredito que o ensino bilíngue não é uma tarefa só da escola, mas das famílias também. Assim sendo, se você tem crianças no Brasil que frequentam escolas com as disciplinas majoritariamente faladas em inglês deve procurar bons livros de autores brasileiros para ler em voz alta. A criança precisa ouvir as conjungações corretas, pronomes, advérbios, etc. Se o seu caso for de alguém que mora fora do Brasil e você deseja que a criança fale português corretamente, leia e escreva em português, então deve manter leituras fixas toda semana para que o contato com a língua seja uma rotina. A criança pode até parecer que não está atenta, mas continue a leitura em voz alta assim mesmo.
Dicas práticas
Não corrija uma criança que colocou uma palavra em inglês no meio da frase toda em português. Ela dificilmente vai exercitar a memória e o conhecimento do vocabulário. Diga apenas que não entendeu o que foi dito e peça para ela repetir a frase toda em português. Exemplos:
“Gosto muito de rainbow”. Se você na pressa corrigir e disser “arco-íris” dificilmente a criança vai lembrar da próxima vez. Ao invés de falar, diga que não compreendeu. Peça para repetir tudo em português.
“O desenho está upside down”. Você pode perguntar especificamente para a criança: o que é “upside down”? Ela não vai lembrar, espere, peça para ela mostrar o que quer dizer e tente fazer com que ela fale. Não diga por ela.
No Brasil, crianças que frequentam escolas bilíngues apresentam dificuldades na ortografia em português. Diante disso, faça pequenos ditados. Pegue um papel, pode ser um post-it. Peça para escrever cinco palavras, especialmente com z, s, ss, ç e c. São os principais erros que surgem entre crianças já alfabetizadas em duas línguas.
Filmes sem legenda
Crianças maiores que costumam assistir a um filme no fim de semana podem exercitar a língua ouvindo o áudio original em inglês, sem legenda. Toda vez que a compreensão é exercitada a capacidade de decodificar aumenta. Isso quer dizer que quanto mais a gente ouvir numa língua aumenta a identificação de fonemas e palavras. Pense que no começo frases inteiras vão escapar, passam sem serem compreendidas, mas aos poucos o ouvido vai pescando algumas palavras e tudo começa a fazer sentido. É um exercício, melhora com o tempo e a frequência. Costuma ser difícil no início do filme, mas no final já estamos acostumados.
Toda semana tem sugestão de livro novo e experiência a ser compartilhada
Um menino levado chamado Max vai enfrentar o mundo dos monstros. Cada vez que ele caminha para dentro desse novo horizonte desconhecido as ilustrações crescem. Começam pequenas no início do livro e tomam as páginas na medida em que os monstros se revelam. Afinal, o que é realidade? O que é imaginação? A plena realização do menino é quando ele participa de uma festa no mundo dos monstros. Porém, ele se cansa e quer voltar para o mundo real. Ao fazer esse percurso para retornar ao seu quarto na sua casa o autor Maurice Sendak mostra um personagem completo, trata a criança com todos os aspectos da realidade, medo, razão, curiosidade e o mundo desconhecido dos monstros. Livro indicado a partir dos 4 anos. Um verdadeiro clássico da literatura infantil e cabe destacar os desenhos belíssimos de Maurice Sendak.
Um pouco mais sobre quem escreve
Para quem ainda não segue o instagram @maislivrosmenostelas aproveito para contar um pouco mais sobre a minha trajetória. Tenho 40 anos, sou jornalista e curto muito acompanhar o desenvolvimento das minhas 3 crianças: Laura, Miguel e Cecilia. Trabalhei em jornal, site, rádio e televisão. Na GloboNews, fui produtora e editora por 14 anos. A leitura para as crianças se tornou uma prioridade quando percebi que as telas poderiam atrapalhar esse processo. Por isso, comecei a pesquisar sobre esse tema. Hoje, já consigo reunir uma série de fundamentos sobre o assunto e tenho ajudado diversas crianças no desenvolvimento da leitura. O primeiro passo para quem tem uma criança em casa é lembrar da recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria. Até 24 meses (2 anos) zero telas. Ou seja, nada de celular, televisão, tablet, computador. É possível. Para isso acontecer, o adulto também deve evitar telas perto das crianças e criar o hábito de deixar o celular mais afastado. Quem tem um dispositivo por perto vai acabar consultando, afinal, hoje é muito mais fácil pesquisar no google para descobrir a capital de um país do que buscar em enciclopédias, livros, dicionários, etc.