Ler para crianças pequenas que ainda estão aprendendo a falar é um desafio. Muitas vezes elas não ficam quietas e mesmo assim devemos continuar a leitura. O livro “Em frente à minha casa” vai acrescentando cada elemento do cotidiano de uma criança de maneira que traz uma surpresa para os bem pequenos. Eles ficam na expectativa para saber o que tem na próxima página. É simples, mas desenvolve vocabulário, memória e cria associações.
Quando crescem um pouco mais
Por volta dos 4 ou 5 anos a leitura ganha uma nova dinâmica. O adulto deve fazer algumas perguntas, mesmo que não obtenha respostas. Ou seja, instigar a curiosidade e, principalmente, manter a criança interessada no livro. Por isso, resolvi colocar aqui no formato de lista as perguntas a serem feitas para as crianças ANTES, DURANTE e DEPOIS da leitura. Vamos lá:
ANTES
Quais são as pistas que podemos ter sobre a história a partir do título e da capa do livro?
Você acha que esse livro vai contar a história de quem?
O que você já sabe sobre esse tema?
DURANTE
- Qual é o problema dessa história?
- O que você acha que vai acontecer a partir de agora?
- Como você acha que a história vai terminar?DEPOIS
- Sobre o que era exatamente a história do livro?
- Você recomendaria esse livro para um amigo?
- Houve uma solução para o problema? Qual foi?
Conversas que estimulam a oralidade
Falar durante o livro não quer dizer trocar ou substituir o texto. A leitura deve ser sempre fiel ao que está em cada página, não podemos trocar palavras. A conversa é um estímulo para a análise, a crítica, a capacidade de resumir uma história. Depois de comentar ou avaliar um livro o conhecimento sobre a história aumenta, ou seja, o texto vai ser melhor compreedido.
Passos para desenvolver a expressão oral e o vocabulário
A palavra falada por uma criança começa pela repetição. Ela ouve o que disse o adulto e reproduz, no mesmo tom, na hora certa, com a mesma frequência. Por isso, quando nasce um bebê os adultos costumam se preocupar com o que falam porque sabem que uma pessoinha está ouvindo tudo e aprendendo. Algumas crianças gostam de falar a todo momento. Para aquelas que ainda se sentem inseguras e acabam ficando mais caladas existem dicas para estimular as conversas dentro de casa.
1 - Peça para a criança dizer o que imagina ou faça suposições
O adulto pode começar falando coisas triviais como por exemplo: Por que será que os cachorros latem? Ou então: Será que o vovô gosta de espinafre?
2 - Incentive a criança a refazer uma frase com um vocabulário mais rico
Se a resposta para a primeira pergunta for apenas: “Porque o cachorro está com medo.” Você pode endossar e ampliar a resposta ao dizer: Sim, você está certo, o cachorro late com veemência quando se sente ameaçado ou está em perigo.
3 - Faça perguntas que não permitam apenas “sim” ou “não” como resposta.
Ao invés de perguntar: “Você está catando folhas?” Você pode questionar: “O que você quer fazer com todas as folhas que está catando?”
4 - Se o seu filho é calado e ainda assim acaba vendo muita televisão peça para ele te contar o que viu daquela vez. O ideal é limitar o tempo de TV.
5 - Durante as brincadeiras, peça para a criança contar o que está imaginando. Descrever situações, sonhos, imaginações é a melhor maneira de desenvolver a oralidade.
INTERAGIR, INTERAGIR, INTERAGIR!
A interação verbal é simplesmente aproveitar todas as oportunidades para colocar a criança para falar. Temos que ter cuidado para que as interações não sejam somente no contexto de dar ordens: “vai escovar os dentes, troca de roupa” ou de repreensão: “cuidado para não derramar o leite”, etc. É importante criar laços na conversa e não tornar a fala sempre um padrão negativo.
Um pouco mais sobre quem escreve
Para quem ainda não segue o instagram @maislivrosmenostelas aproveito para contar um pouco mais sobre a minha trajetória. Tenho 41 anos, sou jornalista casada com jornalista e tenho 3 crianças em casa: Laura, Miguel e Cecilia. Trabalhei em jornal, site, rádio e televisão. Na GloboNews, fui produtora e editora por 14 anos. A leitura para as crianças se tornou uma prioridade quando percebi que as telas poderiam atrapalhar esse processo. Por isso, comecei a pesquisar sobre o tema. Hoje, tenho ajudado diversas crianças no desenvolvimento da leitura. O primeiro passo para quem tem uma criança em casa é lembrar da recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria. Até 24 meses (2 anos), zero telas. Ou seja, nada de celular, televisão, tablet, computador. É possível. Não desista.