Experimentar outras atividades também desperta o interesse pela leitura
É muito comum a gente querer descobrir os melhores livros e, principalmente, correr atrás do interesse da criança para achar exemplares que falem sobre um assunto específico. Antes, porém, precisamos colocar as crianças diante de novas experiências e atividades. Elas precisam ser desafiadas a praticar uma tarefa desconhecida.
Nem sempre a criança vai ter uma aptidão para um esporte ou uma dança, mas isso não quer dizer que a gente vá abrir mão de experimentar algo. Fazer o que ainda é desconhecido desperta a curiosidade e aumenta a atenção da criança. Ainda que ela não vire craque no futebol vale a pena jogar uma partida. Ou então leve para uma aula experimental de costura. Ou quem sabe um dia fazer cerâmica. Se houver resistência convide um amigo da criança para ir junto. Passar uma manhã numa casa de acolhimento de idosos ou num centro de distribuição de comidas. Pensem em atividades diferentes, em novidades para a criança e para o adolescente.
Depois disso, sente-se para ler no dia seguinte conversando sobre como foi aquela atividade. O que tem de diferente? Existe uma proposta primeiro de algo novo. Assim, também pode ser com a leitura. Muitas crianças e adolescentes dizem logo que não gostam de ler. A maioria vai até confirmar que já tentou, mas não curtiu. Provavelmente, foram forçadas. De fato, ninguém gosta de fazer algo contra a vontade.
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Por isso, criem experiências, momentos diferentes, atribuições novas para depois sim propor uma leitura. Assim também quando vamos introduzindo as crianças no dia a dia das tarefas da casa precisamos ter paciência, segurar nossas mãos ligeiras de adultos experientes para observar a lentidão e a pouca destreza das mãozinhas pequenas. Vira e mexe ficamos temerosos com a faca, com o fogão, com a panela quente. No entanto, de alguma maneira precisamos dar autonomia, com segurança, deixar que eles façam, que tomem a frente, que consigam esticar o lençol de elástico para colocar no colchão pesado. Isso é como no processo de leitura. Estar diante de algo que para muita gente virou um tédio com um olhar novo.
Antes de dormir nem sempre dá para ler
Crianças bem pequenas gostam de interagir com os livros e algumas até ficam se mexendo, pulando, dando voltas e correndo durante a leitura em voz alta. Com esse cenário mais agitado fica difícil de planejar o momento dos livros perto da hora de dormir. Costumo dizer que hábitos podem ser construídos. Então, se você ainda precisa de incentivos, pense em outros horários para pegar nos livros. Vai ser mais produtivo e até mais prazeroso colocar a leitura num momento distante do sono. A rotina, claro, vai depender de cada casa. Quem estuda de manhã cedo talvez não consiga ler durante o café da manhã. O fundamental é manter uma mini estante ou uma pequena caixa de livros por perto. Lembre-se de carregar também dois livros para consultas, restaurantes ou qualquer outro momento de espera. Algumas pessoas não gostam de ler no carro porque ficam enjoadas ou com dor de cabeça, mas com o trânsito intenso em algumas cidades vale a pena ter um livro de piadas ou uma enciclopédia no metrô ou no ônibus.
O mais importante é ter o livro como uma prioridade no momento da leitura. Ou seja, se o adulto está lendo para a criança não pode ficar checando mensagens ou emails nem com o celular na mão. Deixe o dispositivo longe. Fique por 10 ou 15 minutos diante da criança totalmente dedicada a ela. O filho percebe quando não estamos prestando atenção e começamos a fazer mil coisas ao mesmo tempo.
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Por fim, entre de cabeça na história, faça vozes, fique surpreso, seja um personagem. Quem disse que adulto não precisa de livro infantil? Muitas vezes é o momento de risadas tanto para os pequenos quanto para os crescidos. Escolha livros que já foram lidos, resgate exemplares esquecidos. Repetir também faz bem. Ler a mesma história com novas interjeições e onomatopeias pode surpreender.
Sugestão de leitura e experiência a ser compartilhada
O livro da Anne é para crianças a partir dos 11 anos. Existem formatos diferentes inclusive com coleções publicadas por editoras. Por ora, um volume com o texto integral é o suficiente para começar. A história da menina que poderia ficar abandonada para sempre mostra que muito mais do que ter sua vida transformada é poder trazer uma novidade para todos que passam a conhecê-la na nova casa. Os irmãos Marilia e Matthew que adotam Anne já estão mais velhos e precisam de ajuda na casa, tarefas do dia a dia de uma pequena fazenda. No entanto, eles se supreendem com a vontade de viver da menina, a alegria constante, o bom humor, a dedicação. Anne é capaz de mostrar sempre um lado genuíno e agradecido para a nova família. A menina também precisa crescer, amadurecer e aprender, mas isso não tira a felicidade que ela traz para toda a comunidade que agora faz parte da vida de Anne.
Um pouco mais sobre quem escreve
Para quem ainda não segue o instagram @maislivrosmenostelas aproveito para contar um pouco mais sobre a minha trajetória. Tenho 40 anos, sou jornalista casada com jornalista e tenho 3 crianças em casa: Laura, Miguel e Cecilia. Trabalhei em jornal, site, rádio e televisão. Na GloboNews, fui produtora e editora por 14 anos. A leitura para as crianças se tornou uma prioridade quando percebi que as telas poderiam atrapalhar esse processo. Por isso, comecei a pesquisar sobre esse tema. Hoje, já consigo reunir uma série de fundamentos sobre o assunto e tenho ajudado diversas crianças no desenvolvimento da leitura. O primeiro passo para quem tem uma criança em casa é lembrar da recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria. Até 24 meses (2 anos) zero telas. Ou seja, nada de celular, televisão, tablet, computador. É possível. Para isso acontecer, o adulto também deve evitar telas perto das crianças e criar o hábito de deixar o celular mais afastado. Quem tem um dispositivo por perto vai acabar consultando, afinal, hoje é muito mais fácil abrir o google (ou falar com a Alexa) para descobrir a capital de um país do que buscar em enciclopédias, livros, dicionários, etc.