Em algumas rodas de conversa, telefonemas ou até por mensagens trocadas no celular podemos perguntar o que os adultos estão lendo. Pedimos sugestão, indicação e até o livro emprestado para economizar (mas, lembre-se de devolver assim que terminar a leitura). Porém, não temos o hábito de perguntar ou trocar informações sobre o que as crianças estão lendo. Dificilmente, falamos sobre leituras feitas fora da escola quando a criança ainda é bem pequena.
Existem duas situações que precisamos rever:
1. Livros grandes e leituras por capítulos podem fazer parte do cotidiano de crianças que ainda não sabem ler. Imagine as possibilidades que uma criança pode desenvolver ao ouvir uma história em voz alta todo dia. Aos poucos, a capacidade de reter as informações aumenta e cria-se um senso de continuidade. Em muitos casos, temos medo de apresentar um livro maior, achamos que pode ser cansativo ou que não vai ser compreendido. Realmente, muitas palavras vão ser novas para a criança pequena e pode ser que algumas continuem sem sentido depois de terminar o livro. Acreditem: essa palavra que ficou sem sentido lá atrás vai ser descoberta logo adiante, num diálogo ou dentro de um novo contexto.
2.O hábito de ter sempre um livro em andamento cria um compromisso. Muitos adultos ficam com aquela frase na cabeça: “preciso terminar esse livro antes de começar outro”. Ou então ficam agoniados: “estou com vários livros pela metade”. Não vejo grandes problemas nem uma falta de organização nessa eterna luta por terminar um livro. Há, sim, um comprometimento. O que depois podemos reavaliar se vale ou não terminar um livro que não nos parece interessante. Agora, como ficam as crianças sem esse relacionamento com um livro pela metade? Não vão criar o hábito da leitura em momentos de ócio e o que é pior não vão ter coragem de enfrentar livros maiores.
É possível ler tudo antes?
Nem preciso responder o que vocês já imaginam que seria realmente uma tarefa sem sucesso. Entendo a preocupação dos responsáveis, mas precisamos buscar fontes seguras e confiar nessas pessoas. Pode ser que o gosto seja diferente, mas jamais a recomendação será de um livro de baixo nível se a pessoa que indicou é de confiança.
Então, procurem referências, conversem bastante, digam o que vocês esperam de um livro para a criança que vocês cuidam em casa ou na escola.
Agora, atenção, um livro de uma autora pode ser maravilhoso, mas a obra completa nem sempre vai ter a mesma qualidade. Então, a melhor saída é mesmo procurar pessoas que leram os livros para trocar ideias.
Toda semana tem sugestão de livro novo e experiência a ser compartilhada
A coleção do autor e ilustrador Mo Willems parece trazer histórias simples, mas nem sempre é fácil chegar a soluções imediatas para questões do dia a dia. O elefante Geraldo e a porquinha conversam num formato que parece de história em quadrinhos por causa do balão de fala em cada página, mas o enredo se alonga um pouco mais. Há quem diga que os desenhos são minimalistas, mas as ilustrações traduzem bem os sentimentos e as reações dos personagens a cada fala. Crianças bem pequenas podem não entender tudo, mas a partir dos 3 anos com certeza elas vão morrer de rir com as trapalhadas desses amigos. Para quem deseja treinar o inglês vale a pena comprar a versão original.
Um pouco mais sobre quem escreve
Para quem ainda não segue o instagram @maislivrosmenostelas aproveito para contar um pouco mais sobre a minha trajetória. Tenho 40 anos, sou jornalista e curto muito acompanhar o desenvolvimento das minhas 3 crianças: Laura, Miguel e Cecilia. Trabalhei em jornal, site, rádio e televisão. Na GloboNews, fui produtora e editora por 14 anos. A leitura para as crianças se tornou uma prioridade quando percebi que as telas poderiam atrapalhar esse processo. Por isso, comecei a pesquisar sobre esse tema. Hoje, já consigo reunir uma série de fundamentos sobre o assunto e tenho ajudado diversas crianças no desenvolvimento da leitura. O primeiro passo para quem tem uma criança em casa é lembrar da recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria. Até 24 meses (2 anos) zero telas. Ou seja, nada de celular, televisão, tablet, computador. É possível. Para isso acontecer, o adulto também deve evitar telas perto das crianças e criar o hábito de deixar o celular mais afastado. Quem tem um dispositivo por perto vai acabar consultando, afinal, hoje é muito mais fácil pesquisar no google para descobrir a capital de um país do que buscar em enciclopédias, livros, dicionários, etc.
eu tenho muita dificuldade em abandonar livros ruins. sofro, mas termino a leitura.