A agenda (tão intensa) das crianças
Peço licença aos geniais compositores Arlindo Cruz, Sombrinha, Luiz Carlos da Vila e tantos outros que enchem a vida do Brasil de poesia em forma de canção. Sim, temos artistas completos e preciso da ajuda deles, queridos leitores, porque estamos diante de crianças com vida social intensa, agenda mais lotada do que a de muitos adultos. O que fazer então? Desistir dos livros? Deixar de lado por um tempo? Jamais! Se a gente permite que a programação do fim de semana tome conta de todas as horas do dia tem alguma coisa fora do lugar. Acreditem. Não dá para abraçar o mundo com as pernas, já dizia minha mãe quando eu queria ir a todos os aniversários nos mais diferentes bares do Rio. É, eu já tive vida social intensa. Agora, falando sobre as crianças estamos num momento de formação de hábitos e não podemos deixar rolar quando o calendário quer nos engolir. Perdão pelo trocadilho, mas a leitura tem que continuar.
Em geral, muita gente já começa a justificar para si mesmo (ou dar desculpas) quando o filho não quer ler: minha criança é mais voltada para os números, para a matemática, para o esporte, para a música, etc. Então, tenham em mente um pensamento apenas: não se cria um hábito até repeti-lo a exaustão.
1.Você participa da leitura?
Não desistam na primeira recaída. Como diriam meus amigos da música: iremos achar o tom e fazer com que fique bom. Isso serve para os livros, como para muitas outras atividades das crianças. Digo isso porque meu filho de 8 anos começou a fazer violino. Toda aula eu tenho que ficar na sala da professora assistindo, anotando e quase aprendendo tanto quanto ele (exceto pelo fato de que não estou com o instrumento no ombro). Depois de cinco ou seis aulas, ele começou a dar sinais de cansaço. Parecia que não estava avançando. Pediu para sair. Eu disse que não. Era cedo demais para dizer isso, ele precisava criar o gosto, ir adiante. Em casa, percebi que ele não queria estudar, pegar no violino para treinar, segurar o arco para tocar a música. Pois bem, diante dessa má vontade misturada com preguiça e uma pitada de mau humor resolvi me aventurar no violino. Comecei a tocar em casa aquilo que eu tinha aprendido durante as aulas, mas claro, com uma certa dificuldade. Ele viu aquela cena e veio logo me corrigir, dizendo qual era a nota, etc. Funcionou, ele voltou a ter interesse, se sentiu desafiado, queria me mostrar como fazer e pegou no violino para estudar.
Assim também podemos fazer com as leituras. Principalmente, ler em voz alta. Inclusive para as crianças que já sabem ler. Escolham um livro maior, leia apenas um capítulo por dia. Deixe o suspense no ar. Precisamos participar da leitura das crianças, saber detalhes dos personagens, dos autores, informações e curiosidades para despertar o interesse. Quando a gente sabe o que a criança está lendo é possível criar uma conexão, um assunto para a conversa na mesa do café da manhã.
2.A criança está sempre com a agenda cheia?
Carregue o livro na bolsa. Antes, eu tinha livro de colorir ou um brinquedinho na mochila das crianças. Hoje, temos sempre algum exemplar da biblioteca. Em geral, um livro que eles ainda não leram, mas para a minha filha de 11 anos pode ser qualquer exemplar. Outro dia, ela precisou passar por um procedimento cirúrgico para colocar tubos nos dois ouvidos. Quando eu vi ela tinha escolhido uns dois livros e estava esperando a médica devorando alguma coleção da biblioteca.
Sugestão de leitura e experiência a ser compartilhada
A coleção do Guido tem diversos títulos com atividades do cotidiano das crianças: na fazenda, na escola, na praia, vai dormir, no zoo, etc. São mais de dez livros do Guido escritos pela autora e ilustradora Laura Wall em inglês. Cinco foram traduzidos para o português. As aventuras do ganso com sua amiga Sophie (Sofia, em português) costumam arrancar gargalhadas das crianças bem pequenas, a partir dos 2 anos. São boas escolhas para levar na bolsa, por exemplo. Perguntem a algum amigo para pedir emprestado ou vejam se tem na biblioteca das escolas! Boa leitura.
Um pouco mais sobre quem escreve
Para quem ainda não segue o instagram @maislivrosmenostelas aproveito para contar um pouco mais sobre a minha trajetória. Tenho 40 anos, sou jornalista casada com jornalista e tenho 3 crianças em casa: Laura, Miguel e Cecilia. Trabalhei em jornal, site, rádio e televisão. Na GloboNews, fui produtora e editora por 14 anos. A leitura para as crianças se tornou uma prioridade quando percebi que as telas poderiam atrapalhar esse processo. Por isso, comecei a pesquisar sobre esse tema. Hoje, já consigo reunir uma série de fundamentos sobre o assunto e tenho ajudado diversas crianças no desenvolvimento da leitura. O primeiro passo para quem tem uma criança em casa é lembrar da recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria. Até 24 meses (2 anos) zero telas. Ou seja, nada de celular, televisão, tablet, computar. É possível. Para isso acontecer, o adulto também deve evitar telas perto das crianças e criar o hábito de deixar o celular mais afastado. Quem tem um dispositivo por perto vai acabar consultando, afinal, hoje é muito mais fácil abrir o google (ou falar com a Alexa) para descobrir a capital de um país do que buscar em enciclopédias, livros, dicionários, etc.
A leitura em conjunto funciona mesmo! Eu lia com o Francisco cada um lia uma página em voz alta até terminar o capítulo.