O livro que vocês podem ver nessa imagem está na faixa dos R$ 300. É isso mesmo. Um único item de uma lista de material escolar com 14 livros custa essa fortuna no Brasil para crianças que estão na faixa dos 10, 11 anos. Imagina quando elas chegarem no Ensino Médio. Os preços pulam para valores exorbitantes. Estamos falando de um país que lê pouco, tem dificuldades de interpretação de texto, ortografia, e principalmente, com uma lacuna inaceitável de bibliotecas públicas bem equipadas.
A prática mais saudável seria criar um sistema em que os livros fosse propriedade da escola, como as cadeiras, mesas e os computadores. Assim, cada turma teria acesso aos didáticos e paradidáticos e, depois deixariam os exemplares sem rasuras ou rasgos para serem utilizados no ano seguinte. Pode ser que em algum momento novas edições tenham que ser publicadas de livros de história e geografia, por exemplo, mas não seria todo ano.
O fato é que comprar livro no Brasil se tornou uma missão quase impossível para muitas famílias e arcar com uma lista de paradidáticos e didáticos virou uma sacrifício ainda maior. O exemplo deste livro de Português foi retirado de uma lista de material escolar de uma grande escola do Rio de Janeiro. Somados os 14 livros passam de R$ 2 mil. Imagina ter que pagar tudo isso de uma vez só. Por fim, ainda existem famílias com outras crianças. Ou seja, multiplique isso pela quantidade de filhos e você já não pode utilizar o 13o salário para viajar nem mesmo poupar um dinheirinho.
Você se lembra dos paradidáticos que leu?
Alguns clássicos ficaram guardados na minha memória, como "Dom Casmurro” e "Senhora". Ainda posso dizer o título de mais dois ou três, mas o fato é de que não me lembro da maioria dos paradidáticos que li em mais de 10 anos na mesma escola. Isso porque não eram bons e foram trabalhados sem constância. Não houve um cuidado para que as obras fossem bem aproveitadas.
Por isso, temos que correr para garantir a leitura de bons livros em casa, falar sobre essas histórias, mostrar as analogias, por exemplo, quando um autor faz referências a clássicos e reconta trechos de histórias bem conhecidas. Se for difícil para uma criança que ainda não tem o hábito de ler os grandes livros de Machado de Assis, comece pelos contos desse autor essencial para os estudantes brasileiros. São histórias curtas, simples e envolventes. O leitor consegue dar continuidade ao texto sem se sentir desmotivado.
Toda semana tem sugestão de livro novo e experiência a ser compartilhada
Minha primeira sugestão é o livro "The Chocolate Touch” para crianças de 7 a 9 anos. Não se assuste com o inglês porque essa obra é bem fácil de ser compreendida para os iniciantes, inclusive muito utilizada como paradidático nos Estados Unidos. Faça uma leitura por capítulos. Não pare para procurar no dicionário toda palavra desconhecida. Vá lendo mesmo que não tenha entendido uma ou outra expressão. O autor faz uma versão para a história do Rei Midas que transformava tudo o que tocava em ouro. Na obra de Patrick Skene Catling, tudo o que os lábios do menino tocam se transforma em chocolate. Não é uma apropriação sem dar crédito ao original, inclusive o menino se chama John Midas. O livro é ótimo para aprender inglês e divertido, afinal, tudo vira chocolate! Será que isso é bom?
Ler obras adaptadas pode ser o primeiro passo para depois chegar ao livro integral. É um caminho para quem ainda tem dificuldades de encarar um texto completo. Não vejo como preguiça, apenas como uma fase da criança pequena. Por isso, não deixem de ler o original depois. Gosto da coleção da editora Scipione chamada "Reencontro Infantil” para títulos como “Os Três Mosqueteiros", “O Jardim Secreto", "Robin Hood” e "Viagem ao Centro da Terra". Recomendo para crianças entre 7 e 9 anos.
Um pouco mais sobre quem escreve
Para quem ainda não segue o instagram @maislivrosmenostelas aproveito para contar um pouco mais sobre a minha trajetória. Tenho 40 anos, sou jornalista e curto muito acompanhar o desenvolvimento das minhas 3 crianças: Laura, Miguel e Cecilia. Trabalhei em jornal, site, rádio e televisão. Na GloboNews, fui produtora e editora por 14 anos. A leitura para as crianças se tornou uma prioridade quando percebi que as telas poderiam atrapalhar esse processo. Por isso, comecei a pesquisar sobre esse tema. Hoje, já consigo reunir uma série de fundamentos sobre o assunto e tenho ajudado diversas crianças no desenvolvimento da leitura. O primeiro passo para quem tem uma criança em casa é lembrar da recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria. Até 24 meses (2 anos) zero telas. Ou seja, nada de celular, televisão, tablet, computador. É possível. Para isso acontecer, o adulto também deve evitar telas perto das crianças e criar o hábito de deixar o celular mais afastado. Quem tem um dispositivo por perto vai acabar consultando, afinal, hoje é muito mais fácil pesquisar no google para descobrir a capital de um país do que buscar em enciclopédias, livros, dicionários, etc.