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O assunto dominou as trocas de mensagens de mães de várias escolas no Rio de Janeiro. Um grupo de alunos do Colégio Santo Agostinho - Unidade Barra cometeu um crime. Utilizou a Internet para criar imagens de colegas de sala - menores de idade - nuas. Possuem à disposição uma tecnologia sem que tenham recebido antes nenhuma educação para isso. Casos semelhantes aconteceram na Espanha e, mais recentemente, nos Estados Unidos. É muito fácil dar um celular, dizer minimamente o que pode ou não ser feito e depois deixar sem controle.
O que é um limite? Uma regra? Como garantir que o bom senso vai prevalecer entre adolescentes que ainda não estão amadurecidos? Não vejo outra saída a não ser um acompanhamento de perto. Sabe aquele bom e velho hábito de ficar de olho? É a única maneira. Checar constantemente o celular, avisar ao adolescente que email, aplicativos e outros recursos da Internet vão ser monitorados. Não precisa ser todo dia, mas de vez em quando, vale sim olhar o celular com o adolescente ao lado, conversar sobre o que se encontra por ali, mostrar o que não pode acontecer. Existem inclusive aplicativos que espelham o conteúdo do celular do adolescente no dispositivo do responsável.
Outra medida fundamental: celular não deve ficar 24 horas por dia na mão de crianças e adolescentes. Algumas saídas de casa podem ser feitas sem o dispositivo. Na hora de dormir, o celular deve ser guardado com os pais. Aos poucos, o adulto vai ter alguns sinais de maturidade e já pode deixar o celular por mais tempo com o adolescente.
Em resumo, a lógica é simples. Quando der o celular avise logo: não vai ficar o tempo todo com o adolescente. Combine quais vão ser os momentos em que vai haver necessidade do dispositivo.
Esse episódio que aconteceu no Rio de Janeiro não é isolado. Antes do celular, já se compartilhava fotos de meninas nuas por trocas de mensagens nos chats na Internet. Pouco foi feito nos últimos 25 anos em termos de educação para a tecnologia de maneira formal. É sempre uma tentativa particular de cada família para que o adolescente não cometa erros.
Já circula também pelos mesmos grupos de trocas de mensagens o desabafo de uma mãe que admitiu a participação do filho nessa atrocidade cometida contra as meninas da própria turma. Ela disse que ligou para a família de uma das vítimas para pedir perdão. A mãe disse ainda: "peço a empatia de todos para entender que ele é apenas uma criança de 14 anos, que erra e não pode ser crucificado por todos." Pede ainda uma "chance” para o filho.
Sinceramente, não sei a quem ela se dirigia especificamente, mas digo logo, perdoar não quer dizer passar a mão na cabeça e deixar de tomar medidas concretas. A atitude mais sensata neste momento seria a expulsão desses adolescentes. Educar é um processo e pode ser doloroso também. Espero que as pessoas que cometeram esse crime consigam enxergar o que fizeram e se comprometam a não mais fazer nada parecido com isso.
Sugestão de leitura e experiência a ser compartilhada
A história da menina Opal poderia ser carregada apenas de dor e sofrimento. Ela não sabe o motivo da mãe tê-la deixado com o pai aos 3 anos de idade e para piorar chegou numa cidade nova aos 10 anos sem amigos e desconfiada de todos. Ela é a filha do pastor e depois de encontrar o cachorro Winn Dixie no supermercado vê a possibilidade de se aproximar das pessoas e conhecer a história de cada uma. Um aprendizado vem da velha senhora Gloria Dump. "Não se pode julgar as pessoas sempre pelo o que elas fizeram antes, você deve julgar pelo o que elas estão fazendo agora.” Muitas pessoas que a menina conhece parecem ter um passado obscuro e foram esquecidas pela sociedade. Estão sozinhas, abandonadas. Com a ajuda do cachorro carismático ela se aproxima dessas pessoas e faz uma bela festa para celebrar as novas amizades. Por fim, uma última reflexão do livro fala sobre as pessoas que já se foram. Em um certo momento, novamente numa conversa com Gloria, a menina pergunta: Você acha que todo mundo sente falta de alguém, como eu tenho saudades da mamãe? A senhora fecha os olhos e responde apenas que acredita que o mundo todo tem um coração ferido.
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Então, para todo mundo com esse coração um pouco ferido desejo uma boa leitura na companhia de Opal e seu cachorro Winn Dixie.
Um pouco mais sobre quem escreve
Para quem ainda não segue o instagram @maislivrosmenostelas aproveito para contar um pouco mais sobre a minha trajetória. Tenho 40 anos, sou jornalista casada com jornalista e tenho 3 crianças em casa: Laura, Miguel e Cecilia. Trabalhei em jornal, site, rádio e televisão. Na GloboNews, fui produtora e editora por 14 anos. A leitura para as crianças se tornou uma prioridade quando percebi que as telas poderiam atrapalhar esse processo. Por isso, comecei a pesquisar sobre esse tema. Hoje, já consigo reunir uma série de fundamentos sobre o assunto e tenho ajudado diversas crianças no desenvolvimento da leitura. O primeiro passo para quem tem uma criança em casa é lembrar da recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria. Até 24 meses (2 anos) zero telas. Ou seja, nada de celular, televisão, tablet, computador. É possível. Para isso acontecer, o adulto também deve evitar telas perto das crianças e criar o hábito de deixar o celular mais afastado. Quem tem um dispositivo por perto vai acabar consultando, afinal, hoje é muito mais fácil abrir o google (ou falar com a Alexa) para descobrir a capital de um país do que buscar em enciclopédias, livros, dicionários, etc.
que texto certeiro e fundamental, Beth! é, realmente, uma discussão urgente que pouco tem avançado nas últimas décadas.