Você que tem uma criança ou um adolescente em casa encontrou a resposta certa para essa pergunta? Provavelmente, estamos todos em fase de testes com nossas crianças e adolescentes quando se trata de dar o primeiro celular. De uma coisa, temos certeza: as telas fazem mal. Muito mal. E a pressão aumenta a cada dia para que a criança ou o adolescente da casa ganhe logo o primeiro celular (com pacote de dados incluído, é claro!) e fique desfilando por aí com o smartphone na mão. Aqui, eu te convido a pensar em alternativas, olhar para os movimentos que estão surgindo para adiar a chegada definitiva do celular e pensar em maneiras de controlar o uso se o aparelho já se instalou nas mãos da criança e do adolescente.
Conheci o projeto www.waituntil8th.org (em português: espere até o último ano do Ensino Fundamental) e achei interessante a proposta do grupo. Eles trazem uma série de problemas que surgem entre crianças e adolescentes que muitos adultos já sabem sobre o uso dos celulares. Vou colocar os principais tópicos aqui. Visitem o site para ler os detalhes. Os pontos negativos são:
Celulares estão mudando a infância
Causam vício
Atrapalham a aprendizagem do conteúdo acadêmico
Provocam alterações no cérebro das crianças
Perturbam a qualidade do sono
Alteram o comportamento
Interferem nos relacionamentos
Aumentam os riscos de ansiedade e depressão
Cyber bullying
Crianças e adolescentes ficam expostos a conteúdo pornográfico
Transtorno alimentar e pouco exercício na infância
Muita gente deve ter lido até aqui pensando: lá em casa meu filho não passa por nenhum desses problemas. Então, tudo bem continuar com o celular que já está com ele? Bom, nem tudo é visível num primeiro momento e pode ser que os acontecimentos se apresentem em ritmos diferentes. Minha sugestão: coloquem limites para o uso do celular de todos! Não somente das crianças e adolescentes. Adultos também. É um exercício interessante. Enquanto escrevo essa newsletter aqui no substack meu celular insiste em piscar com breaking news do NYTimes que ele julga ser interessante para mim. Em alguns casos, meu olhos até viram para o lado esquerdo da mesa onde repousa o smartphone conectado no wi-fi da casa. A tela se enche de luz por 4 ou 5 segundos e depois se apaga. Ufa. Fui mais forte e consegui seguir em frente sem pegar no aparelho. Ainda se fala aparelho? Digo isso porque somos os primeiros viciados. Antes mesmo das nossas crianças. Então, deixo aqui minha listinha de sugestões para vencer a mania de checar as notificações ou mesmo ser um bom exemplo para crianças e adolescentes que estão começando a usar o celular:
1 - Onde você coloca para carregar o celular durante a noite? É na mesinha de cabeceira? O que você faz assim que abre o olho, ainda com a cabeça no travesseiro? Confere o zap? Entra no email?
Vamos repensar algumas desses hábitos:
Experimente - pelo menos nos finais de semana - deixar o celular carregando num local longe da cama. Assim, quando você acordar não vai ter o celular como primeiro item a ser conferido ainda deitado.
Defina dois horários ao longo do dia para checar instagram e outras redes sociais. Por exemplo, viu de manhã? Passe o resto do dia sem ver. Veja somente duas vezes ao dia.
Crianças e adolescentes estão na escola? Hora de adiantar tudo o que precisamos fazer no celular: pix para pagar aula de violino, responder uma mensagem, etc. As crianças estão voltando da escola? Você busca de carro ou caminhando? Nada de celular nesse momento. Hora de conversar, bater papo, contar uma piada, qualquer coisa!
Meus filhos são pequenos e moram longe da avó ou do avô e precisam fazer chamada de vídeo. Minha sugestão: criança não segura no celular. O adulto segura. E se possível: coloque o celular num suporte. Assim, ninguém pega no smartphone (isso controla o aumento da dependência do celular). A criança pode mostrar um ursinho, dançar na frente da câmera do celular para alegrar os avós e não fica se preocupando em enquadrar ninguém na câmera.
Esse é o suporte que temos aqui nos Estados Unidos (bem simples, bem baratinho).
Tablets e celulares não são o conforto e a calma dos pais em viagens de carro e restaurantes. Nesses dois locais, especificamente, é uma ótima oportunidade para se ter uma série de conversas importantes com as crianças e adolescentes. No carro, podemos falar coisas que muitas vezes em casa não vamos conseguir a atenção total deles. No restaurante, é hora de ensinar a ver cardápio, mostrar como se senta, o que podemos fazer para ser gentil com as pessoas que trabalham ali e etc. Se for preciso leve um livro de colorir e duas cores de giz de cera.
Com que idade ou em que momento chega o celular?
Se eu tivesse que responder essa pergunta eu iria seguir essa proposta do waituntil8th. O que seria o 9o ano no Brasil, ou seja, por volta dos 14 anos. Aqui nos Estados Unidos, muitos estudantes trabalham durante os quatro anos da High School (Ensino Médio no Brasil tem três anos). Diante disso, podemos até considerar utilizar parte do salário do adolescente para pagar a conta do celular, o que ajuda a criar responsabilidade. De qualquer maneira, se ainda assim, existir uma necessidade de dar um aparelho antes, porque já começam a sair sozinhos, etc, existem aparelhos aqui nos Estados Unidos com bloqueios para redes sociais, celulares somente com a função de fazer chamadas e mandar mensagens de texto. No Brasil, a saída é colocar controle no tempo de aplicativos de redes sociais. E quando o adolescente chegar em casa o aparelho pode ficar guardado, essa é sempre a melhor opção. Espero não ter confundido a cabeça de ninguém, mas se pudesse deixar apenas uma dica falaria com os adultos: controlem primeiro o tempo que você usa o celular. Só assim poderemos passar uma mensagem para os adolescentes de que o smartphone não pode controlar nossa vida.
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Sugestão de reportagem para ler (não necessariamente eu concordo com tudo) da Tania Menai.
Toda semana tem sugestão de livro novo e experiência a ser compartilhada
Livro escrito e ilustrado pela americana Lynne Barasch que pode ser lido para crianças a partir dos 7 anos. É uma obra a ser explorada na leitura em voz alta com a participação do adulto. Tudo começa com uma bela amizade entre irmãs e a tentativa da caçula em ajudar a mais velha de 15 anos a resolver um problema de matemática. Destaque para o episódio em que a irmã mais nova vai até a biblioteca e faz uma pesquisa sobre Albert Einstein. Depois, ela escreve para o grande cientista uma carta copiando o desafio de matemática que precisava ser resolvido sem que a irmã mais velha soubesse da correspondência. O livro é baseado numa história real e a edição brasileira foi cuidadosamente preparada pela sempre querida editora Cosac Naify, com fotografias de Einstein no Brasil. A tradução é do físico carioca Marco Moriconi. Procurem em bibliotecas e sebos. Os livros usados estão na faixa de US$5 a versão em inglês, e R$29,90 a edição em português.
Um pouco mais sobre quem escreve
Para quem ainda não segue o instagram @maislivrosmenostelas aproveito para contar um pouco mais sobre a minha trajetória. Tenho 40 anos, sou jornalista casada com jornalista e tenho 3 crianças em casa: Laura, Miguel e Cecilia. Trabalhei em jornal, site, rádio e televisão. Na GloboNews, fui produtora e editora por 14 anos. A leitura para as crianças se tornou uma prioridade quando percebi que as telas poderiam atrapalhar esse processo. Por isso, comecei a pesquisar sobre esse tema. Hoje, já consigo reunir uma série de fundamentos sobre o assunto e tenho ajudado diversas crianças no desenvolvimento da leitura. O primeiro passo para quem tem uma criança em casa é lembrar da recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria. Até 24 meses (2 anos) zero telas. Ou seja, nada de celular, televisão, tablet, computar. É possível. Para isso acontecer, o adulto também deve evitar telas perto das crianças e criar o hábito de deixar o celular mais afastado. Quem tem um dispositivo por perto vai acabar consultando, afinal, hoje é muito mais fácil abrir o google (ou falar com a Alexa) para descobrir a capital de um país do que buscar em enciclopédias, livros, dicionários, etc.
Oie!!! Como faço pra recebeu a newsletter por email?